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A vida é ação. Todos os seres vivos agem incessantemente, cessando suas atividades somente quando o prana deixa os seus corpos. A palavra em sânscrito para ação é karma e, de acordo com a Lei do Karma, que é expressa pela Terceira Lei de Newton em termos que se aplicam em todas as dimensões da existência, cada ação gera uma reação, geralmente igual e oposta.
As condições de hoje são os resultados dos karmas de ontem, e as ações de hoje dão luz aos nossos amanhãs. Os resultados das ações dos nossos ancestrais também recaem sobre nós, assim como cada um de nós é parcialmente responsável pelos karmas mútuos que foram e estão sendo realizados por aqueles com quem convivemos em nossos bairros, cidades e sociedades.
Cada um de nós nasce com um determinado potencial para ter uma saúde boa ou ruim, um potencial que sofre influência daquilo que herdamos dos nossos antepassados, da cultura em que nascemos, e das ações que praticamos em vidas passadas. Enquanto alguns padrões de saúde são mais fortes e mais arraigados do que outros, e, portanto, mais “fadados” a serem vivenciados, outros são mais maleáveis.
Podemos trabalhar com esses padrões adotando novas ações para melhorar nossas circunstâncias – contanto que pratiquemos tais novas ações com habilidade e nos momentos apropriados. É nesta ocasião que um mapa dos nossos karmas – aquilo que a ciência Indiana da divinação conhecida como Jyotisha busca oferecer – pode tornar-se um novo item valioso para a nossa caixa de ferramentas de saúde.
O Jyotisha surgiu na Índia como um vedanga, um “braço” ou ramo do Sistema Védico que trouxe insights aos sacrificadores sobre a natureza dos espaços sobre nós, o qual eles dividiram em constelações lunares, chamados de nakshatras. Estudando a maneira que os atributos daquelas divisões de espaço, e os movimentos do sol e lua dentro daqueles espaços, refletiam em experiências terrestres, os especialistas Védicos eram capazes de selecionar, de maneira vantajosa, as horas e locais de acordo com os propósitos dos seus rituais.
Além dos nakshatras clássicos, o Jyotisha reconhece rashis (constelações solares) e bhavas (casas astrológicas), e considera cuidadosamente as posições de nove grahas. Esse grupo de “Nove Agarradores” (a palavra graha literalmente significa “aquele que agarra” ou “aquele que captura”) consiste de cinco planetas visíveis (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), os dois luminares (Sol e Lua), e Rahu e Ketu, os chamados nodos norte e sul da lua (os pontos onde a órbita da terra em torno do sol intercepta a órbita da lua em torno da terra). Cada graha é um devata (deidade) que quando ativado nos prende em suas garras e nos induz a exibir algumas de suas características.
Cada graha, portanto, tem um impacto particular sobre nós, para melhor ou pior. Embora alguns grahas sejam relativamente mais benevolentes e outros mais malevolentes, apenas dois podem ser referidos como verdadeiramente “benéficos”: Júpiter e Vênus. Mas mesmo esses grandes benéficos podem, quando mal posicionados em um mapa natal, gerar resultados indesejáveis. Similarmente, dependendo de suas posições, os maléficos primários Saturno, Marte, Rahu e Ketu podem ser relativamente mais ou menos negativos para a nossa saúde (pois os maléficos raramente são positivos ou mesmo benignos em termos do seu impacto fisiológico). Mercúrio pode agir como benéfico ou maléfico dependendo dos outros grahas com os quais estiver associado, e a Lua é benéfica quando estiver brilhante (particularmente quando estiver crescente), e maléfica quando escura (particularmente quando decrescente).
Um horóscopo natal é um mapa do prarabdha de um indivíduo, aquela porção dos karmas do nativo que fizeram com que ele ou ela nascesse sob a influência de um padrão específico de grahas em um lugar específico e em um momento específico. Um jyotishi experiente examinará tanto a carta natal como a carta horária, um mapa que mostra onde os grahas existem no momento da avaliação da pessoa, para poder extrair informações que possam dar perspectivas importantes sobre a condição daquele indivíduo.
Os jyotishis geralmente fazem suas leituras em relação aos Nove Grahas, dos quais Saturno é frequentemente considerado o mais importante. Saturno (em sânscrito Shani, ou Manda), o graha de anubhava (experiência), simboliza todas aquelas coisas da vida que você gostaria de evitar mas não consegue, todas aquelas experiências que está fadado a viver: insatisfações, desilusões, perdas, doenças, velhice, morte. Enquanto Saturno pode indicar doença de modo geral, ele particularmente significa doenças crônicas, especialmente aquelas de predominação vata.
Outro graha com forte promoção de vata é Rahu, representado pela cabeça de um asura cuja cauda é conhecida como Ketu. Sendo Rahu uma cabeça desprovida de corpo, ele está eternamente faminto, pois tudo que come (incluindo especialmente o sol ou a lua no momento de um eclipse) sai de seu pescoço sem ser digerido. Rahu, portanto, promove a instabilidade, confusão, e uma sede insaciável por tudo e qualquer coisa. De certa maneira, Rahu é a criança propaganda para a existência moderna, milhões de pessoas sentadas imóveis enquanto olham para as suas telas, presas firmemente em suas garras, sugando imagens e sons da internet, com um eterno desejo por mais, mais, mais.
Como o vaidya oferecendo tratamento Ayurvédico, o jyotishi pode dar recomendações para upayas, ou remédios, específicos que podem ser executados para pacificar um graha com configurações problemáticas (e portanto kármicas). Na verdade, Ayurveda e Jyotisha (que são dois galhos do ramo da filosofia Indiana Sankhya) têm, historicamente, sido usados conjuntamente para ajudar a superar problemas de saúde, até um momento quando o Jyotisha passou a ser visto como “superstição” ao invés de um modelo de realidade e experiência humana não limitado ao mundo material. Esperamos que essa conferência seja um primeiro passo na jornada para trazer o Jyotisha de volta ao seu devido lugar ao lado do Ayurveda, para o benefício de todos os seres sencientes.
Tathastu!
Esse artigo apareceu no brochura-souvenir do programa da 5ª Conferência Internacional de Ayurveda em 2015, onde o Dr. Robert Svoboda e a Dra. Claudia Welch, autores deste texto, palestraram todos os dias.
Foram 07 dias de Conferência, cada dia eles falaram do Planeta do dia e a sua correlação com o Yoga, Ayurveda, Tantra e a Vida.
Todas essas aulas foram gravadas e intituladas como “The Planets” e agora disponibilizamos a vocês com legenda em português, para que você possa aprofundar ainda mais o seu conhecimento na tradição védica.
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